UM DEFEITO DE COR - Livro que tornou-se enredo de escola de samba em 2024

Olá, faz tempo que não escrevo aqui. Isso se deve ao fato de estar estudado e me preparando para alguns concursos.

No carnaval de 2024, um livro que já havia lido a algum tempo (e agora estou relendo) tornou-se enredo de uma escola de samba no carnaval carioca.

Fato que levou muitas pessoas a procurarem o livro e esgotarem o estoque dele na mesma semana.

Mas, o que do fala o livro que merece tanta atenção?

A sobrevivência da Cultura Negra, no Brasil, mesmo em meio a tantas adversidades durante o terrível período da escravidão,  já justificaria, e com razão, a adoção do livro para ser utilizado como enredo e ter como palco a Marquês da Sapucaí. No entanto, o livro é muito vasto, e explícito, no que as pessoas passaram nessa época e aborda inúmeras questões desde as questões religiosas, passando por questões sociais como feminismo negro até chegar a um ponto que considero de extrema importância para quem é entusiasta dos Direitos Humanos, ou pra quem tem dificuldade em entender essa matéria, sobretudo quando se tem uma opinião pública contrária tão massiva.

A questão que remete o livro à seara dos Direitos Humanos é bastante óbvia para quem já é dessa área. Porém, se é um estudante de Direito, um concurseiro, por exemplo, que nunca teve contato com obras desse âmbito é importante destacar que o livro demonstra de forma cabal, incisiva, comovente, explícita (como já disse) aspecto ligados à questões da própria Dignidade Humana. É importante também para se acender a discussão de que os Direitos Humanos não se debruça ao estudo e defesa apenas de quem está encarcerado, pelo simples de se estar encarcerado. Trata de nos impulsionar ao estudo e reflexão dura e crua da Condição Humana, o que alguns livros também o fazem, mas com a abordagem diferenciada, temos como exemplo, a obra de Hannah Arendt de mesmo nome "A Condição Humana", "Se isto é um homem" de Primo Levi, "A Metamorfose" de Franz Kafka, dentre outro da preferência de cada um, temos uma infinidade de obras que nos falam e nos mostram como é fácil um ser humano reduzir outro a uma condição de desumanidade.

A problemática é muito mais profunda, escancarada no livro em tela, razões sociais, que estruturam nosso país e que estão interligadas, e que através da leitura percebemos o porquê de algumas políticas públicas que se baseam na reparação histórica que o Brasil está longe de conseguir concluir, talvez, dadas as circunstâncias, nunca consiga reparar.

Sem spoilers, mas quando você ler o livro percebe claramente nas cenas o conceito, na prática, do que chamamos de "Discriminações Múltiplas ou Agravadas", bem como, vemos a "interseccionalidade" evidenciada.

Discriminações Múltiplas ou Agravadas é quando quando a descriminação é baseada em vários critérios, como cor, gênero, classe social, que se verifica por diversas vezes no livro. Quando a pessoa em situações diversas em situação de vulnerabilidade é capturada para se tornar escrava e em outros momentos sofre com a fome, e para isso tem que pedir dinheiro a outras pessoas para sobreviver vemos que essa pessoa sofre Discriminações Múltiplas ou Agravadas, pois vivencia essas restrições em momentos distintos mas está sempre presente em suas vidas. Quando age na mesma situação, chamamos de Interseccionalidade...

O fato de uma mulher preta e pobre ser encontrada e logo em seguida ser estuprada, nos permite a observação da atuação conjunta de uma descriminação relacionada ao gênero e a classe social - a pobreza. Posteriormente, vemos outros fatores agindo em conjunto, de modo concomitante, quando a mulher é escravizada no Brasil e passa também a ser explorada sexualmente, a questão da cor e do gênero agem em conjunto. Muitas pessoas lembram que homens escravizados também eram estuprados, a questão da cor aqui estava bem presente, mas a mulher preta tinha uma frenquência bem maior de ocorrência, como se vê no livro. 

Atualmente, ainda se verifica, estruturalmente, no nosso país o conceito de Discriminações Múltiplas e Agravadas e a Interseccionalidade, visto que, numericamente falando, a mulher preta é a que ocupa o topo do ranking de mulheres que sofrem algum tipo de violência. A pessoa que é mulher, que é preta e pobre, sempre está no topo das que mais sofrem com a violência.

Violência essa que vai desde a violência sentida em sua própria pele até quando vê seu filho morto no chão de alguma rua brasileira fazendo novos "riozinhos" de sangue, que muitas vezes também encontram com seu próprio "riozinho de sangue", quando não isso, se encontra com sua dor. 

A mãe que mais chora a dor da perda do seus filhos e filhas no Brasil por causa da violência é a mãe preta.

Apesar de todo esse sofrimento, narrado logo no início do livro, o que leva muitos leitores a abandonarem a leitura (não façam isso), o livro narra a história de uma mãe, que foi criança, que foi jovem, e que também foi adulta sempre passando por adversidades relacionadas a um mundo que não a enxergava como ela realmente era. 

A mãe que apesar de tudo se joga no mundo em defesa de seus filhos, que como visto no livro, como muitas mães ainda tem seus filhos arrancados de seus braços como se seus sentimentos nada valessem...

O resta da interpretação deixo a critério de vocês! O livro está logo abaixo, boa leitura!

 

Link para Download do livro em PDF => CLIQUE AQUI!  Um Defeito de Cor - Ana Maria Goncalves.pdf (5815692)

Caso, por algum motivo não consiga baixar, pode mandar um E-Mail para ilanacunha.adv@gmail.com quem mando!